Meu artigo no Jornal da Madeira de 1 de outubro de 2017, a propósito do Dia Mundial da Música.
Link:
https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/527/A_musica_e_a_medicina
A MÚSICA E A MEDICINA
No dia 1 de outubro comemora-se, desde 1975, o dia Mundial da Música. Aproveitando esta efeméride, gostaria de descrever algumas das relações existentes entre a música e a medicina, as minhas duas paixões.
Segundo a mitologia grega, os gregos escolheram o mesmo deus, Apolo, para ser o guardião destas duas artes. E não foi por acaso. A escolha baseou-se no facto de que os médicos (tal como os músicos) eram também considerados artistas, cuidando das dissonâncias que perturbavam a harmonia do corpo. A saúde nada mais era do que a harmonia entre o corpo e a alma, entre as diversas partes anatómicas do homem e a sua mente. Mais tarde, Esculápio, filho de Apolo, herdou o dom de ser deus da medicina, e continuou a manter a tradição, tratando as doenças com recurso aos sons da sua lira.
Não é novidade que a música é uma fonte inesgotável de prazer. A música faz-nos sentir bem e é, por isso mesmo, terapêutica. A música tem a capacidade de desencadear emoções que nos encantam, surpreendem, e que até nos viciam. Tudo com uma simplicidade e beleza inexplicáveis.
Hoje em dia existem dois tipos de intervenções terapêuticas que utilizam a música: a musicoterapia e a música-medicina. A musicoterapia é a intervenção mais antiga, mais conhecida e é praticada por um musicoterapeuta, que medeia a relação entre o paciente e a música. Já a música-medicina é um conceito relativamente recente, em que os profissionais de saúde utilizam a audição de música pré-gravada e seus constituintes (ritmo, tempo, tonalidade, timbre, melodia, harmonia e modo) como instrumento terapêutico, sem recorrer ao musicoterapeuta. A música por si só desencadeia respostas fisiológicas e psico-emocionais que podem aliviar sintomas e facilitar a regulação emocional.
Nos últimos anos tem havido um interesse crescente em utilizar a música-medicina na reabilitação neurológica. Graças aos avanços tecnológicos, as neurociências ofereceram um enorme contributo para a compreensão dos mecanismos cerebrais subjacentes ao processamento musical em várias patologias. Clarificaram como a música altera a estrutura e as funções cerebrais, e de como esta poderia ser usada terapeuticamente. Assim, métodos de reabilitação inovadores, baseados em música, têm sido desenvolvidos com o objetivo de melhorar diferentes défices: motores, cognitivos, linguagem, emocionais e sociais. Os estudos têm mostrado fiabilidade e eficácia em várias patologias, tais como: Parkinson, demências incluindo Alzheimer, acidente vascular cerebral (AVC), afasia, dislexia, autismo. É para mim motivo de satisfação e orgulho ter conhecimento que a equipa de investigação do NeuroRehab Lab, inserido na UMa/M-ITI, liderada pelo Dr. Sergi Bermúdez (Ph.D. Eng.), tem vindo a desenvolver tecnologias de reabilitação neurológica baseadas em música, com a colaboração do Serviço de Saúde da RAM, o que irá beneficiar pacientes com demências e AVC na Madeira.
Em resumo, não duvide que a música dá saúde. Já diz o ditado popular: “quem canta, seu mal espanta!” E porque hoje é o dia dela, viva a Música!
Carina Freitas