Artigo de opinião publicado no Jornal da Madeira no dia 17 de março de 2019
A palavra intuição, deriva do latim intuitione, que significa “olhar para dentro”, contemplar, aceder ao conhecimento que está dentro de nós. Também é designada por sexto sentido, “voz interior”, pressentimento e, até, palpite. É uma capacidade inata, de difícil compreensão, que tem sido estudada, e definida, por várias disciplinas (sociologia, filosofia, psicologia, neurociências, noética) e doutrinas (esoterismo, espiritismo).
A psicologia descreve a intuição como uma forma de raciocínio inconsciente, automática, rápida, evolutivamente antiga e associada ao sistema límbico cerebral (área que processa as emoções). Pode ter diferentes classificações, que incluem o “óbvio” e a “Eureka”! Em todos os casos, ninguém consegue explicar o pensamento utilizado na resolução de um problema, inicialmente, complexo. É um saber, sem saber como! As neurociências descrevem a intuição como uma capacidade rápida de processamento de informação. O nosso cérebro, de forma a ajustar-se às situações, é preditivo, isto é, estabelece previsões, comparando constantemente as novas informações recebidas com os conhecimentos e memórias de experiências passadas. Desta comparação automática e inconsciente, nasce a intuição. Estudos na área da psicofisiologia demonstraram que o coração está, também, envolvido no processamento e descodificação de informações intuitivas. Parece que escutar o palpitar do nosso coração, evoca palpites! “O coração não fala, mas adivinha!”
Se pensarmos bem, cada experiência vivida, sentida e interiorizada, cria a nossa fonte única de sabedoria. É a nossa essência. A pessoa intuitiva usa este capital como uma ferramenta auxiliar de decisão, quer nas pequenas escolhas, quer nos grandes dilemas morais e encruzilhadas da vida. Deste modo, presta atenção ao seu mundo interior, escuta as suas emoções, sentimentos, insights e interpreta as sensações físicas ou “viscerais” (desconforto ou leveza), enquanto reflete nas possibilidades. Confiar na intuição é aceitar o conselho do coração. Será que palpita entusiasmado ou fraqueja desanimado? Uma perceção emocional pode criar a certeza numa escolha! Nada garante que seja a decisão mais acertada, mas é baseada na essência e valores pessoais, e sentida como verdadeira.
O que nos impede de seguir a intuição é o medo (de eventuais mudanças), o viés cultural contra as intuições e a necessidade de uma evidência ou explicação lógica. Por outro lado, a razão, ou raciocínio analítico, é lenta, consciente, controlada e confortável. A razão e a intuição são processos mentais complementares, inseparáveis, que funcionam num equilíbrio dinâmico. E a nossa vida balança nesta eterna, e delicada, dualidade!
Menciono alguns exemplos de profissões que valorizam e treinam a intuição: militares enfrentando, corajosamente, situações de combate; empresários e investidores arriscando palpites em decisões financeiras; cientistas, alguns deles laureados com o prémio Nobel, que confirmam lampejos de inspiração, que motivaram investigações pioneiras. Aliás, a intuição tem sido uma mais-valia no avanço do conhecimento. A Albert Einstein (1879-1955), considerado o maior intuitivo da história, são atribuídas duas frases: “não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do Universo - o único caminho é o da intuição” e “a mente intuitiva é um dom sagrado e a mente racional um servo fiel. Criamos uma sociedade que honra o servo e se esqueceu do dom”.
A intuição é um (b)ónus da criação! Todos a temos. Sintonize e confie na sua também! Merece ser feliz!
Imagem digital "The balance" - Chistian Schloe