Artigo de opinião publicado a 7 de junho de 2020 no Jornal da Madeira: Sobre as Cerimónias de Graduação
As cerimónias de graduação que marcam a conclusão de um ciclo de estudos, normalmente realizadas no final do ano letivo, tiveram a sua origem nas primeiras universidades da Europa, durante a Idade Média (séculos XII e XIII).
Graduação deriva do Latim graduatio, onis (que significa grau, escala), numa época em que o Latim era a língua oficial dos académicos. Inicialmente, estas cerimónias eram restritas à formação académica graduada, como mestrados e doutoramentos. Contudo, ao longo das últimas décadas, estas comemorações estenderam-se a outros níveis de ensino e são realizadas no último ano dos vários ciclos de estudos.
Na Madeira, a título de exemplo, a tradicional Bênção das Capas, dos finalistas do ensino secundário, nasceu em 1889. Esta celebração foi um privilégio concedido pelo Ministro do Reino, por despacho de 09/02/1889 emitido pela Direção Geral de Instrução Pública, ao Liceu Jaime Moniz, o único Liceu que existiu na Madeira. Para muitos, o percurso académico terminava aqui. Dado o impacto deste ato simbólico para os finalistas e suas famílias, este ritual foi posteriormente adotado por outros estabelecimentos de ensino da Região. Para os finalistas, antigamente chamados de “setimanistas” (termo alusivo ao antigo 7º ano, equivalente ao 11º ano atual), o dia especial consiste em várias atividades: o cortejo académico pelas ruas da cidade, vestidos com traje a rigor, participação numa celebração religiosa, sessão fotográfica da praxe e muita diversão no, tão esperado, baile de finalistas.
Nas cerimónias de graduação, o ritual inclui a leitura dos nomes completos de todos os finalistas, enquanto o aluno recebe o diploma das mãos do reitor. Esta é a maneira de honrar o sacrifício e o sucesso do aluno, que agora conclui uma etapa importante na sua vida. O momento mais aguardado é quando o aluno, família e amigos ouvem o seu nome, e explodem numa alegria contagiante, o que ajuda a relativizar as longas horas que duram estes eventos. A organização destes festejos é minuciosa, com recurso à pré-gravação dos nomes, para evitar erros e atrasos. No Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, a cerimónia é tão eficiente, que consegue nomear todos os 2400 alunos numa hora, uma média de 1,5 segundos por cada nome.
Dada a atual pandemia da COVID-19 e impossibilidade de reunião presencial, as universidades norte-americanas (Estados Unidos e Canadá) têm optado por realizar, pela primeira vez na História, cerimónias de graduação virtuais, online, para celebrar a conquista dos finalistas de 2020 (“Class of 2020”) e sua passagem à comunidade dos alumni (antigos alunos).
E qual a relevância destas cerimónias académicas, e insistência na sua continuidade? Para George Loewenstei, economista da Carnegie Mellon University, o significado só aparece a longo prazo e retrospetivamente. Ele evoca umas das teorias do psicólogo e economista Daniel Kahneman (laureado com o Prémio Nobel da Economia em 2002), que refere que a memória que as pessoas têm de uma experiência é modulada pelas emoções sentidas durante a jornada e pelo seu final. Aplicando este conceito à vida académica, uma cerimónia de graduação é o culminar de uma experiência pessoal de superação, uma memória feliz e inspiradora, que será bem recordada para sempre. Que bom que é ter memórias felizes, pois como dizia o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.): “A memória é o escriba da alma…”