Artigo de opinião publicado a 10 de julho de 2020 no Jornal da Madeira sobre: A Terapia da Natureza
A terapia da natureza (“Forest Therapy”) descreve um grupo alargado de técnicas que visam melhorar o estado físico e mental dos indivíduos, através do contacto direto com a Natureza e espaços exteriores. Na Pérsia Antiga, há 2500 anos, o Imperador Ciro, o Grande, mandou plantar um jardim no meio da primeira capital da Pérsia, Pasárgada, alegando que o ar puro seria benéfico ao corpo e à mente. Mais tarde, no século XVI, o médico Paracelso escreveu que “a arte da cura vem da natureza e não do médico”, reconhecendo, desta forma, propriedades terapêuticas no meio ambiente.
Mais recentemente, nos anos 80, o Japão foi confrontado com 10 mil vítimas anuais por “Karoshi” (morte causada por excesso de trabalho). Aproveitando os 4828 km de floresta, que representam dois terços da extensão deste país, o governo implementou um programa nacional de saúde em medicina florestal, liderado pelo Dr. Quing Li, que encorajava os japoneses a saírem de casa e a experimentar a imersão na Natureza. Foi assim que surgiu esta técnica de “banho de floresta”, também denominada de “shinrin-yoku”. Esta terapia começou, desde logo, também a ser estudada cientificamente, comprovando-se os seus benefícios.
Os estudos demonstraram que a observação da natureza durante 20 minutos é capaz de reduzir os níveis de cortisol (hormona associada ao stress) em 13,4 %. Para além da diminuição dos níveis de stress, da pressão arterial, da frequência cardíaca (o que favorece a prevenção das doenças cardiovasculares), são referidas melhorias na qualidade do sono, no desempenho cognitivo (concentração, criatividade), no humor e o fortalecimento do sistema imunitário (3 dias na floresta, causa um aumento de 50% na produção de células com funções imunológicas, e os seus efeitos podem durar um mês). Os estudos mostraram que os odores/substâncias químicas (fitocidas) que são segregadas pelas árvores têm propriedades terapêuticas, sendo os pinheiros, a espécie com maior potencial medicinal. As neurociências também validaram estas evidências. Mostraram que os cérebros de voluntários que contemplavam paisagens naturais ativavam áreas associadas à empatia e ao altruísmo (córtex do cíngulo anterior e insula) e que os cérebros dos voluntários que contemplavam paisagens urbanas ativavam a área associada ao medo e ansiedade (amígdala). Até ao momento, já foram realizados mais de 1000 estudos científicos nesta área.
A Associação de Terapia Natural e Florestal dos Estados Unidos já certificou vários profissionais de saúde para serem guias de terapia florestal. No geral, os médicos oncologistas são os que mais recomendam esta prescrição. Na Finlândia, é o próprio governo que sugere um mínimo de 5 horas por mês na natureza, como forma de prevenir o alcoolismo, a depressão, e o suicídio. Outras modalidades da terapia da natureza incluem: a jardinagem terapêutica, a terapia com horticultura, a terapia dos oceanos, a terapia assistida por animais e a ecoterapia.
Em conclusão, a terapia da natureza é uma prática promissora que contribui para uma melhor saúde física e mental, apenas aumentando o nosso contacto com a natureza. Se está na Madeira, aprecie as belezas naturais e as vistas fabulosas sobre o oceano. A Madeira cura a cada inspiração!